África: Visões do Gabinete de Urbanização Colonial, é outra proposta, exposição supostamente interessando mais uns quantos que a maioria, mas curiosamente na linha de comentários tecidos à volta d'O Retorno, nossa última leitura, porque também ela evocativa de um ambiente, artificial q.b., mas cuja construção se ia deixando minar pela força da Terra e da Cultura autóctones, sendo que arquitetos como Luís Possolo ou Schiappa de Campos (que ainda foi meu professor na ESBAL, depois de 74) interessavam-se por colher as lições que os Territórios e a sua gente tinham para oferecer. Isto sem falar da inspiração, que a arquitetura moderna aí estava a pedir desenvolvimentos. Mas o entendimento da possibilidade daquele enriquecimento cultural mútuo, vinha tarde, à revelia da censura e das estratégias políticas de unidade nacional... na arquitetura, bem se vê pelos modelos preferenciais: um pouco do Minho, um pouco do sul, a monumentalidade apalaçada.
Espero voltar, para uma visita guiada.
6 comentários:
Agora que terminei um trabalho em que andei à volta de temas como literatura angolana e literatura colonial, vejo, se percebi bem, que nessa arquitectura feita no Ultramar saiu triunfante a inspiração provinda dos modelos metropolitanos. A “casa portuguesa”, quer a do verde Minho, quer a do Algarve mourisco de chaminés rendilhadas e açoteias de luz ficaria sempre bem, porque não?, nas terras portuguesas de África. Também a literatura, com mais poder propagandístico que a arte de Vitrúvio, foi estimulada pelo Estado Novo na vertente de literatura colonial (Henrique Galvão, Brito Camacho e outros). Tudo ao serviço do Império.
Reconheço que deve ser uma exposição interessante. E outra coisa: o preço do bilhete é muito mais baratinho que o da exposição do MNAA.
Pois: bilhete de estudante, 50%; mas no MNAA, se vi bem, também os mais serôdios têm direito a igual redução.
Agora a cena da literatura que corresponderá a esta situação específica da arquitetura e urbanismo, tem, de certeza, pano para mangas. E estará mais estudada, já que as investigações sobre o espólio de África ainda agora começaram.
Esse Brito Camacho (1862-1934) é que eu estranho que o E.N. o tenha enaltecido, um republicano e político (outro médico, como era comum) que, para o meu caso, se interessou também pelos problemas da habitação (e se desinteressou da política depois de 1926).
Nunca li os "Contos Selvagens" (1934) do Brito Camacho, citei porque é dado como exemplo de literatura colonial. Nesta literatura, o colono, promovido a herói, está no centro do foco narrativo, enquanto os naturais são coisificados, reduzidos a paisagem exótica, sem preocupações pela sua cultura. Era republicano o homem? Então e a República de 1910 não era colonialista? O Estado Novo pegou em todas estas artes de escrever, promoveu-as através de concursos do SPN/SNI.
Quanto às reduções na expo do MNAA, sim, há descontos de 50% para pessoal decrépito. Para estudantes só até aos 25 aninhos, idade muito bonita. Mas há uns packs de 5 bilhetes (que não se compram na bilheteira, mas na loja que está implantada na entrada das Janelas Verdes) com um preço de 25€. 1 € de poupança em cada bilhete.
Quem for ao sábado ou ao domingo à tarde, prepare-se para banhos de multidão. Bem, pode ser que a chuva afaste o pessoal.
E é pena, quem está ali ao lado, não ir ver o Nuno Gonçalves, o Gregório Lopes e quejandos. Não vale a pena porque já viram? Bem... reticências... Daí a vantagem de ir a um domingo até às 14 horas, para começar pela pintura portuguesa (e não só) do MNAA.
Sim senhor, o tal Brito Camacho era colonialista, mas parece que foi o 1º a sugerir um modelo diferente, em que se promovesse a população local como povo (dizia que se tinha acabado com a escravatura individual mas tratavam-se os povos indígenas com os mesmos preconceitos de sempre). E isto, imagine-se, tendo como objetivo a autonomia futura. Ninguém aceitou, claro. Ele foi enviado a Moçambique com todos os poderes, tal como Norton de Matos para Angola, mas não deve ter aguentado a jogada, penso eu.
Quanto ao Estado Novo ter pegado em tudo o que os anteriores governos (que eles deploravam à boca cheia)tinham iniciado, é bem verdade, é até um dos meus argumentos. O que se passava na literatura e nas artes em geral é talvez mais complexo. Por vezes o regime já não sabia onde cortar, o que proibir, o controlo também podia ser um pau de dois bicos.
Ah, quanto ao MNAA, já decidi: vou durante a semana!
Como ando com vontade de revisitar a colecção Berardo, talvez aproveite e por 2€ (sim que eu não tenho direito a descontos) vá ver esta também, que até faz sentido depois de termos lido "O Retorno".
Quanto ao MNAA, a minha última visita foi em Outubro ... e vale sempre a pena é claro :)
Enviar um comentário