13 janeiro 2014

CCB, GARAGEM SUL: ÁFRICA...






África: Visões do Gabinete de Urbanização Colonial, é outra proposta, exposição supostamente interessando mais uns quantos que a maioria, mas curiosamente na linha de comentários tecidos à volta d'O Retorno, nossa última leitura, porque também ela evocativa de um ambiente, artificial q.b., mas cuja construção se ia deixando minar pela força da Terra e da Cultura autóctones, sendo que arquitetos como Luís Possolo ou Schiappa de Campos (que ainda foi meu professor na ESBAL, depois de 74) interessavam-se por colher as lições que os Territórios e a sua gente tinham para oferecer. Isto sem falar da inspiração, que a arquitetura moderna aí estava a pedir desenvolvimentos. Mas o entendimento da possibilidade daquele enriquecimento cultural mútuo, vinha tarde, à revelia da censura e das estratégias políticas de unidade nacional... na arquitetura, bem se vê pelos modelos preferenciais: um pouco do Minho, um pouco do sul, a monumentalidade apalaçada. 
Espero voltar, para uma visita guiada.

6 comentários:

Manuel Nunes disse...

Agora que terminei um trabalho em que andei à volta de temas como literatura angolana e literatura colonial, vejo, se percebi bem, que nessa arquitectura feita no Ultramar saiu triunfante a inspiração provinda dos modelos metropolitanos. A “casa portuguesa”, quer a do verde Minho, quer a do Algarve mourisco de chaminés rendilhadas e açoteias de luz ficaria sempre bem, porque não?, nas terras portuguesas de África. Também a literatura, com mais poder propagandístico que a arte de Vitrúvio, foi estimulada pelo Estado Novo na vertente de literatura colonial (Henrique Galvão, Brito Camacho e outros). Tudo ao serviço do Império.
Reconheço que deve ser uma exposição interessante. E outra coisa: o preço do bilhete é muito mais baratinho que o da exposição do MNAA.

Maria Amélia disse...

Pois: bilhete de estudante, 50%; mas no MNAA, se vi bem, também os mais serôdios têm direito a igual redução.
Agora a cena da literatura que corresponderá a esta situação específica da arquitetura e urbanismo, tem, de certeza, pano para mangas. E estará mais estudada, já que as investigações sobre o espólio de África ainda agora começaram.
Esse Brito Camacho (1862-1934) é que eu estranho que o E.N. o tenha enaltecido, um republicano e político (outro médico, como era comum) que, para o meu caso, se interessou também pelos problemas da habitação (e se desinteressou da política depois de 1926).

Manuel Nunes disse...

Nunca li os "Contos Selvagens" (1934) do Brito Camacho, citei porque é dado como exemplo de literatura colonial. Nesta literatura, o colono, promovido a herói, está no centro do foco narrativo, enquanto os naturais são coisificados, reduzidos a paisagem exótica, sem preocupações pela sua cultura. Era republicano o homem? Então e a República de 1910 não era colonialista? O Estado Novo pegou em todas estas artes de escrever, promoveu-as através de concursos do SPN/SNI.
Quanto às reduções na expo do MNAA, sim, há descontos de 50% para pessoal decrépito. Para estudantes só até aos 25 aninhos, idade muito bonita. Mas há uns packs de 5 bilhetes (que não se compram na bilheteira, mas na loja que está implantada na entrada das Janelas Verdes) com um preço de 25€. 1 € de poupança em cada bilhete.
Quem for ao sábado ou ao domingo à tarde, prepare-se para banhos de multidão. Bem, pode ser que a chuva afaste o pessoal.
E é pena, quem está ali ao lado, não ir ver o Nuno Gonçalves, o Gregório Lopes e quejandos. Não vale a pena porque já viram? Bem... reticências... Daí a vantagem de ir a um domingo até às 14 horas, para começar pela pintura portuguesa (e não só) do MNAA.

Maria Amélia disse...

Sim senhor, o tal Brito Camacho era colonialista, mas parece que foi o 1º a sugerir um modelo diferente, em que se promovesse a população local como povo (dizia que se tinha acabado com a escravatura individual mas tratavam-se os povos indígenas com os mesmos preconceitos de sempre). E isto, imagine-se, tendo como objetivo a autonomia futura. Ninguém aceitou, claro. Ele foi enviado a Moçambique com todos os poderes, tal como Norton de Matos para Angola, mas não deve ter aguentado a jogada, penso eu.
Quanto ao Estado Novo ter pegado em tudo o que os anteriores governos (que eles deploravam à boca cheia)tinham iniciado, é bem verdade, é até um dos meus argumentos. O que se passava na literatura e nas artes em geral é talvez mais complexo. Por vezes o regime já não sabia onde cortar, o que proibir, o controlo também podia ser um pau de dois bicos.

Maria Amélia disse...

Ah, quanto ao MNAA, já decidi: vou durante a semana!

Custódia C. disse...

Como ando com vontade de revisitar a colecção Berardo, talvez aproveite e por 2€ (sim que eu não tenho direito a descontos) vá ver esta também, que até faz sentido depois de termos lido "O Retorno".
Quanto ao MNAA, a minha última visita foi em Outubro ... e vale sempre a pena é claro :)