Saiu de casa à hora do
desassossego dos pássaros,
quando os homens, nas
tabernas, deixavam cair
sobre o mármore das
mesas os braços dolentes
de resignação. Uma
rosa de pano
adornava-lhe, num
fingimento álacre,
a cintura do vestido. Levava
a mala
vazia de sonho e, na
pele, uma saudade do amor.
A manhã era uma sombra,
um desafio,
uma promessa ínvia:
ela conhecia como ninguém
o fragor da distância,
o remorso lívido do corpo,
o gume vivaz da
esperança por cumprir.
Desapareceu, era já
noite, num vórtice de árvores
e searas murchas, o
silêncio da planície
cortado pelo grito
rouco da automotora.
*Personagem de URBANO TAVARES
RODRIGUES em Bastardos do Sol
5 comentários:
Desculpem qualquer coisinha. Pus-me a imitar o poeta JOSÉ RAFAEL e saiu isto.
Bia diz...
Lindo, porque não sei dizer mais nada.
Caro heterónimo de José Rafael, não seja modesto:
"...Levava a mala
vazia de sonho e, na pele, uma saudade do amor..."
Deixou-me sem palavras!
Eu não ando bem com tanto texto, tanto quadro, edifício, azulejos, referências. N/ é que pensei que era um excerto do livro? Mas n/ era bem assim...pelo que me lembrava. Só depois percebi, n/ era um trecho, mas um original:o seu autor e o José Rafael surpreendem-nos sempre. Pela positiva.
Estimado José Rafael, gostei das suas palavras.
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