17 fevereiro 2020

A SIBILA (6)

Agustina, desenho de Alberto Luís (marido) em 1952

UMA ÉTICA DA PROPRIEDADE

« – Vá a minha casa um dia destes, de manhã. (…) Preciso muito de si. Sei que é mulher de bom conselho…». Este o convite feito a Quina por Elisa Aida. Os poderes divinatórios da lavradeira interessavam-lhe, mas também o seu sentido prático da vida, tudo aquilo que uma ociosa pode aprender facilmente com uma mulher de trabalho. Havia uma relação de desigualdade e, como Quina intuiu, se a condessa a convidava era para se aproveitar dela.
Na verdade, vieram a estimar-se reciprocamente. Custódio ou Emílio foi criado e mantido por Quina talvez por um certo instinto maternal irrealizado, mas também por uma questão de sangue, por ser supostamente neto ilegítimo da fidalga de Água-Levada.
Amando o seu filho adoptivo, não lhe deixou em testamento a sua parte na propriedade ancestral, mas apenas as que adquirira com o seu trabalho e dinheiro. Há aqui uma espécie de ética da propriedade. Tal ética – presente no amor à terra e na desconfiança com que olhava os familiares que seguiam outros caminhos de ascensão social (por exemplo, os irmãos e o tio José) – era já praticada pelo pai, Francisco Teixeira. Estouvado, mais amigo do ócio do que do negócio, assim provocando a ruína da casa, não sacrificava voluntariamente os bens para servir os seus prazeres. Como se lê em determinado passo do Capítulo III a propósito de uma caseira que lhe quis atribuir um filho, ele a repudiou com crueldade, «pois as mulheres que, com a alegação dos seus amores, procuravam atingir o património, tornavam-se-lhe odiosas.»

Sem comentários: