Um exemplo que aproveito para acrescentar, é o do moinho, que também surge em A Sibila. Embora o tipo de que aqui se trata--o moinho de água de rodízio, também se encontrasse na região de Lisboa (saloia, portanto), era designado azenha, diferenciando-se assim do moinho de vento, o qual marcava sobretudo a paisagem meridional.
Uma vez mais, apresento o exemplo encontrado, ainda a funcionar, em Rio de Onor, tipo largamente difundido nas aldeias e que aproveitava, de forma simples, a torrente das linhas de água, por simples desvio. Quer dizer, sem as complicações que as azenhas de roda lateral implicavam, em zonas onde a água não fosse tão abundante. Recordo, a este propósito, o sistema utilizado nos moinhos de maré, que visitámos, e se baseia no mesmo princípio deste exemplo.
A parte inferior, o rodízio que gira movido pela água, a que se chama INFERNO (desenho de F. Galhano, em Dias, J., Rio de Onor) |
Moinho de Rio de Onor, com o canal tosco de desvio da torrente. A represa faz parte do sistema |
O interior, ainda com todos os elementos a funcionar |
1 comentário:
Um aspecto que conto abordar na sessão de hoje é o valor antropológico e etnográfico de A SIBILA para a compreensão dos códigos culturais de uma comunidade rural de Entre Douro e Minho no período do relato. Falo de comunidade que não é "comunitária", o que a diferencia, não só espacialmente, da transmontana Rio de Onor. A partilha do sagrado entre o padre e as feiticeiras (veja-se a procissão do Menino do Fole),bruxarias como a do bolo cozido com cabelos(praticada, de resto, noutras regiões), as casas, o mobiliário, a culinária (a galinha desossada pela longa cozedura, o arroz açafroado, a aletria temperada com sal),os instrumentos de trabalho... Também o imaginário colectivo das revoltas populares (Patuleia e Maria da Fonte), a presença dos bandoleiros (José do Telhado, feito personagem por anacronismo),a emigração para o Brasil... Não são coisas prosaicas, não.
Veremos o que dirão os leitores.
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